14.05.10 - ENTREVISTA COM ROGER!

Pra finalizar, entrevistamos o DJ Roger n' Roll, outro convidado musical da Feira de Vinil do Rio Vermelho, que acontece domingo (16/05), às 16h, no estacionamento da URBANORAMA.

URB: Como surgiu a paixão pelos discos de vinil? Qual a importância deles em sua vida?

ROGER:
Essa pergunta revela a minha geração. Confesso com muito orgulho, e um certo saudosismo, que sou do tempo da radiola, da fita cassete, do gravador de rolo, dos encantadores discos de vinil. Encantadores, primeiramente, por conta da arte gráfica das capas psicodélicas dos anos 70. Aos oito anos, a capa do primeiro disco do Carlos Santana (uma cabeça de leão formada por várias imagens sobrepostas) me proporcionou a primeira experiência lisérgica. A coleção era do meu irmão e foi através dela que ouvi grandes clássicos do rock (Led Zeppelin, Deep Purple, Pink Floyd...) e da MPB (Jorge Ben, Tim Maia, Gilberto Gil...). E o encanto acontece na sua plenitude por este detalhe: eram os clássicos dos anos 70, a melhor produção musical de todas as décadas que continua influenciando jovens e grandes talentos da atualidade. Era o disco novo do Led Zeppelin (chegando diretamente da loja A Modinha, na Praça da Sé), que eu tinha ouvido uma música no programa Sábado Som, do Nelson Mota, ou era o disco do "prisma" do Pink Floyd, citado em uma reportagem na Revista Pop. Discos eternos, sendo ouvidos em primeira mão, que até hoje encantam os filhos, os netos e vão ser admirados ainda por muitas gerações. Ouvir um disco de vinil era um ato íntimo: você ia pra casa, fechava a porta e abria a janela do seu quarto, para incomodar pouco a sua família e incomodar bastante a vizinhança, limpava a agulha gasta da sua radiola e aumentava o volume no talo. Só voltava desta imersão, por pouquíssimo tempo, pra trocar do lado A para o lado B. E aí, meu amigo, em alguns discos acontecia o encanto final: quando você já estava feliz com a metade da sua aquisição, você ouvia os primeiros arcordes, em mono, de uma música como Satisfaction!

Qual a importância da água para a vida na terra? E do álcool para o ser humano? Qual a necessidade do amor nas relações das pessoas? E que importância dá para o sexo? Qual o papel da música no processo civilizatório do bicho homem? Música é tudo. E a primeira música que eu quis voluntariamente ouvir, veio de um disco de vinil.


URB:
O que você tem comprado ou ouvido ultimamente?


ROGER:
Eu continuo comprando disco de vinil e pirateando os discos digitais (quem inventou esta forma de consumo não fui eu). Viva o download gratuito subsidiado! Acho muito produtiva esta nova relação de divulgação de músicas e artistas, que nunca chegariam a lugares tão distantes da sua origem. Acho a pescaria na rede uma aventura prazerosa e atualmente o meu esporte preferido. Não é papo de quem não quer pagar a quem tem o direito de ter criado. Quando tenho acesso aos novos (discos), faço questão de comprar direto na mão do artista ou um produto que justifique o preço: encartes bem produzidos, fotos, letras, etc. Lembram daquele encanto gráfico? Continuo preferindo ouvir o rock e a black music dos discos de vinil dos anos 70. O som dos amplificadores valvulados, as harmonias dos naipes de metais, a pegada dos bateristas, a disposição kamikaze dos vocalistas... Por conta da função ocupacional de seletor musical de festas e casas noturnas, eu sou um headfone ligado neste caudaloso mundo musical da internet. Aí vale tudo que funcione em uma pista de dança. A música eletrônica é simples, direta e objetiva neste sentido. A reinvenção das canções através dos mashups e remixes rejuvenecem o que nunca se tornou velho, mesmo aos nossos ouvidos seduzidos pelos sub graves modernos. As bandas instrumentais (muitas brasileiras), em seus variados estilos, são os peixes mais valorosos do meu dia. Para os baianos, para iluminar a procura incessante por uma identidade e provocar a veia criativa ainda não descoberta, eu recomendo: a orquestra Rumpilezz é o melhor caminho. Para respirar fundo e manter o coração tranquilo, o maestro Moacir Santos me eleva. É como ouvir Bob Marley na beira da praia.

URB:
Qual o futuro dos LPs?


ROGER: O futuro dos LPs é o melhor possível. É a única saída para a indústria musical. Uma grande valorização comercial, por conta de lançamentos de "radiolas" a preços populares e sendo oferecidas pelas grandes redes de eletrodomésticos, "Ricardos" e "insinuantes". A minha coleção de 20 mil títulos vai estar super valorizada e a minha aposentadoria garantida. Vou ser um velhinho milionário! Eu só não vendo, de jeito nenhum, aqueles clássicos originais dos anos 70. Ah, esses não!