Naquele tempo, em Arembepe (Beto Hoisel)


"Quando e como começou a Aldeia Hippie, não se sabe. Possivelmente, ainda em fins dos anos sessenta, algum chincheiro curtidor chegou ao lugar e resolveu ficar. Fez sua casinha com palhas de coqueiro e ninguém reclamou. Arrumou - ou já tinha - uma companheira e foi ficando. Encontrou algum outro maluco fazedor de colares e pulseiras em Itapuã ou Salvador, onde vez em quando ia vender seu artesanato, e discretamente espalhou sua descoberta. Foram aparecendo outros e outras, fazendo suas casinhas e ficando, sem ninguém protestar. Tudo deserto, nada para encher o saco, a natureza limpa, a praia, o rio, o pôr-do-sol e o nascer da Lua, os coqueiros dando material de construção e coco à vontade para qualquer emergência de fome e sede. Arembepe logo ali, para um apoio imediato. E, principalmente, ninguém. Ninguém para reclamar dos trajes ou da falta deles, ninguém para fiscalizar os comportamentos assumidos. Silêncio e paz. O lugar ideal para o amor, ao som discreto das guitarras, flautas e bongôs. Liberdade. Li-ber-da-de! Estava fundado o Paraíso."
Na URBANORAMA o livro Naquele tempo, em Arembepe por R$ 25,00.
PALAVRAS DE BETO HOISEL
A experiência que vivi com os hippies foi espiritualmente muito intensa, o que já seria um bom motivo para escrever sobre aquilo, principalmente para desmontar a visão estereotipada de que o hippie típico era um irresponsável, um abestalhado que só sabia dizer "Tudo bem... ", "Falou, bicho", "Curti um barato legal" e outras coisas assim. O meu romance mostra uma comunidade dinâmica e criativa, povoada por alguns seres humanos respeitabilíssimos. Obviamente, havia os mais simplórios, mas eram poucos. Além disso, considerar o NTA como um romance hippie, ou sobre os hippies, é uma visão limitada e injusta. O tema maior desse romance é a sociedade em que vivemos. Vê-la pelo prisma hippie é um recurso para olhar "de fora" a dolorosa farsa que vivemos cotidianamente. O que eu mais quero que motive as pessoas para a leitura do NTA é essa visão crítica da sociedade em que estamos inseridos. Claro que o nudismo, o sexo sem preconceitos e a liberalidade com a vida natural serão atrativos para muitos leitores. Mas mesmo aqueles que procurarem meu livro para ver essa liberdade funcionando tomarão conhecimento de uma outra forma de olhar o mundo que certamente lhes acrescentará algo, em termos de visão crítica, em termos de um conhecimento mais verdadeiro da sociedade em que, bem ou mal, vivemos.